quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Mensagem de despedida da Professora Joana D'Arc Rodrigues Dias

Professora Joana D'Arc 
Ah! Quanto tempo faz... Faz anos.
O passar dos dias é mais rápido do que a memória é construída.
De tudo o que fomos restam lembranças como um jogo de montar espalhadas na mente.
Se o passado construiu nossa humanidade, nossa civilidade,
nossa personalidade,
o que somos é feito do que nossa mente consegue manter.
Mas há uma forma de sermos mais.
Sermos professores.
O professor compartilha o conhecimento e, ao doar suas experiências,
ele multiplica-se.
A única forma de que tudo o que prezamos, tudo o que amamos, tudo o que acreditamos resistir ao passar do tempo é que seja doado aos outros.

Não há profissão mais bela do que a que forma outras profissões.
Em cada livro, cada prédio, cada ponte, cada estrada, cada casa há uma parte do professor
Que ensinou a arte de construir.
O que começa na palavra é transformado em morada.

Não é fácil. É verdade.
O professor no Brasil não somente ensina,
mas faz “as vezes” de pai, mãe,
o que repreende
e quem incentiva.
Diversos casos em que a indisciplina impera,
há carência nas famílias:
crianças com poucos cuidados e muitas dificuldades.
O bom mestre faz da escolha o refúgio para os carentes.
Ainda que o Estado nem sempre se faça presente.

Alguns desistem da profissão.
Mas, digo:
nada há que pague o sorriso de uma criança
quando, pela primeira vez, olha uma página
cheia de letras e
descobre nela uma história.

Quem vive de escola,
torna a vida uma descoberta diária.

Aqui, fiz amigos,
aqui, criei leitores,
aqui, plantei as sementes de um futuro melhor para tantos
que, hoje me cumprimentam nas simples trocas de olhar
ou em um bom dia casual,
gostoso,
destes singelos e fáceis que são gratuitos
e que fazem os dias mais felizes.
Aqui, reinventei-me no labor diário
tantas vezes quantas foram necessárias
para que meus estudantes pudessem ter o melhor de mim.

Há vezes em que falhamos.
Houve vezes em que posso não ter encontrado as palavras
certas para agraciar as pessoas
que compartilharam comigo o caminho do ensino.
Destas horas, peço o esquecimento.
Que de mim fique a figura da mulher dedicada,
que nunca desistiu de um aluno sequer,
que acredita que as pessoas merecem o melhor,
que as crianças merecem o saber,
que as pessoas merecem amigos.

Ser professor no Brasil é como ser herói.
Ser exemplo de integridade e não se entregar em situações difíceis.
Não é isto que cada professor aqui faz todos os dias?

Não deixo minha profissão hoje,
ela permanece em todos os que foram meus alunos,
seja na habilidade da leitura,
seja no ensinamento da conduta,
seja no exemplo do trabalho sério,
seja no carinho compartilhado.

Agradeço a todos que estiveram comigo nestes anos,
que fazem parte de mim por compartilharem os momentos de trabalho e amizade.

Inicio um novo momento em que devo reinventar-me mais uma vez,
não mais por meus alunos,
não mais pelo trabalho,
mas por mim mesma
e, claro, por um descanso merecido
depois destes 35 anos de ensino.

Gostaria de deixar uma frase do sábio Kwantzu:

“Se planejarmos para um ano: plantemos cereais;
se planejarmos para uma década: plantemos árvores;
se planejarmos para a vida inteira: devemos educar e ensinar o homem”.


Abraços a todos!!! Beijos no coração!!!

E como dizia Mário Quintana:
“Se tiver de me esquecer, que me esqueça.
Mas bem devagarinho!!!”



Joana D’Arc Rodrigues Dias

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